Transcrição de entrevista do Sen. Cristovam Buarque (PDT) à rádio Novo Tempo.
Rádio Novo Tempo – Um concurso público de uma cidade brasileira oferece as seguintes condições: Enquanto a remuneração inicial oferecida a um operador de escavadeira hidráulica, com ensino fundamental incompleto, é de R$ 1.291,98, o salário para um professor com ensino superior completo é de R$ 1.246,32. Por que a educação no Brasil é tão desvalorizada?
Cristovam Buarque – Por duas razões, a primeira é cultural, nós somos um povo cuja cultura não dá importância a educação. Uma pessoa no Brasil não é considerada rica por ser culta, não é respeitada por ser culta, ela é respeitada pelo tamanho do carro, pela casa; é uma cultura que foi se criando. Aqui a gente chama até um filósofo de lunático, é outra política. Nós somos um país dividido em dois e resolvemos serviços dos ricos; transporte, saúde, moradia e a educação também. A gente cuida da educação da parcela rica, por isso que as universidades são federais e as escolas de base não. “Nós ( os brasileiros) somos um povo cuja cultura não dá importância a educação. Uma pessoa no Brasil não é considerada rica por ser culta, não é respeitada por ser culta, ela é respeitada pelo tamanho do carro ou pela casa.”
Rádio Novo Tempo - A desvalorização dos professores acaba prejudicando os alunos, muitos educadores, desmotivados acabam passando um ensino de baixa qualidade …
Cristovam Buarque -Não tem como atrair os melhores jovens de um país para serem professores sem um bom salário. Não basta um bom salário para ter um bom professor. Se pagar um salário alto, qualquer um vai se candidatar a professor, gente que não gosta de criança, gente sem vocação termina indo para a carreira. Como é que a gente resolve isso? Baixando o salário? Não. Com um critério de seleção que leva em conta a identificação da vocação do candidato
Rádio Novo Tempo – Constantemente ouvimos falar de notícias sobre alunos que agridem os professores, tanto fisicamente como verbalmente. Porque essa onda crescente de desrespeito e violência na sala de aula?
Cristovam Buarque – Essa violência das crianças com os professores tem explicações claras. Primeiro a violência geral da sociedade. Os meninos passam o tempo em um videogame de guerra e assistindo no mundo real mesmo assassinatos e mortes. Muitos destes meninos, que agridem os professores, já viram mortes, já viram assassinatos na rua. Segundo é que a escola é uma coisa chata, degradada, que gera raiva nas crianças. As crianças não têm porque gostar de uma escola caindo aos pedaços, uma escola do quadro negro, quando a gente está no tempo do computador. Elas vão ao cinema ver um filme em 3D e chega um professor e desenha um pontinho de giz e diz esse é o sol e desenha outro e diz essa é a terra. A terceira é a diminuição da respeitabilidade ao professor. As crianças sabem que o professor ganha pouco. Num país, quem ganha pouco não é valorizado e eu diria uma quarta razão, é que nós próprios fomos contribuindo para isso, porque como ganhamos pouco, trabalhamos pouco, nos dedicamos pouco, fazemos muitas greves. Então se quebrou o seguimento de solidariedade professor aluno no Brasil
Rádio Novo Tempo – Há pesquisas que constatam que um grande número de professores sofre com problemas de saúde. Isso pode se atribuir a todas essas condições?
Cristovam Buarque – A essas e a outras. Essa coisa absolutamente maluca de obrigar um professor a dar 8 horas de aula por dia. Isso é um crime. Isso é tratar um professor como escravo. Eu trabalho muito mais de 8 horas, mas é diferente trabalhar aqui 8 horas na atividade administrativa do que dar 8 horas de aula. Eu acho que professor deve trabalhar 8 horas, mas só dar quatro de aula. O resto é orientar aluno, é estudar para se preparar. Oito horas de aula é impossível para as cordas vocais, para as pernas e a tensão? Por isso existem tantos professores de licença.
Rádio Novo Tempo – Pesquisas apontam uma baixa procura por cursos voltados para a educação. O valor do piso salarial dos professores não chega a dois salários mínimos. Como estimular uma pessoa a fazer faculdade e a ingressar numa carreira de educador, quando existem outras oportunidades de estudar menos e ganhar mais?
Cristovam Buarque – Não existe como estimular. Os pais hoje não querem que os filhos sejam professores. Então como é que a gente resolve isso? A proposta que eu tenho é a gente criar uma carreira federal do magistério. Pagando R$ 9 mil por mês. Fazendo concursos federais para escolher de fato os bons. Pegar esses professores novos desta nova carreira e colocar nas mesmas cidades em escolas federais em prédios bonitos com novos equipamentos, que criança gosta de equipamento; e horário integral. A gente já tem o Colégio Pedro II. Já tem as escolas técnicas, é fazer isso em escala nacional, levaria 20 anos a chegar a todo o Brasil.
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