O Brasil e o mundo ficaram estarrecidos hoje com o show de
impunidade que deu a marca ao julgamento de José Cláudio Ribeiro e Maria
do Espírito Santo (©Greenpeace/Felipe Milanez)
Há 25 anos, Chico Mendes tombava em Xapuri por ter sido alvejado a
tiros de escopeta. Há 8 anos, irmã Dorothy Stang também foi atingida por
várias balas. Há quase dois anos, mais outros dois defensores da
floresta, José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da
Silva, tiveram o mesmo destino de seus companheiros. Por que isto
continua a se repetir com frequência na Amazônia? Porque o poder público
nesta parte do país é conivente com violência no campo, desmatamento,
grilagem de terras, trabalho escravo e, de quebra, dá as mãos à
impunidade que grassa nestes rincões e põe em risco a vida de mais
pessoas.
O Brasil e o mundo hoje assistiram direto de Marabá, no Pará, como a
justiça se esmerou em dar a liberdade ao mandante dos assassinatos do
casal de extrativistas. A alegação para que tal absurdo ocorresse é que
houve falta de provas que ligassem José Rodrigues Moreira aos crimes. O
Ministério Público disse que recorrerá à sentença. Porém, um pistoleiro
pegou 45 anos de cadeia e o outro, 42 anos e 8 meses.
“Mais uma vez, os mandantes de assassinatos no campo na Amazônia são
absolvidos. Este é um claro sinal de que o Judiciário sustenta o
processo de impunidade no campo. Inclusive, o Judiciário fortalece o
latifúndio, que vai continuar matando trabalhador na Amazônia”,
preocupa-se o presidente da Fetagri do Pará, Francisco de Assis Solidade
da Costa.
Após as sentenças terem sido proferidas, o clima no tribunal era de muita tensão e medo. Laísa Santos Sampaio,
irmã de Maria do Espírito Santo, e uma das testemunhas de acusação,
está sofrendo ameaças de morte. Com a soltura de Rodrigues, ela fica
ainda mais vulnerável e teme por sua vida.
Este julgamento é emblemático pois consolida um cenário ameaçador
para Amazônia. Seus componentes são muitos e impactantes como a
aprovação do Código Florestal e o preocupante retorno do aumento do desmatamento, que entre agosto de 2012 e fevereiro de 2013, arrasou 1.695 quilômetros quadrados de floresta.
Enquanto isso, ruralistas e o próprio governo federal avançam sobre
terras indígenas e unidades de conservação para levar na marra à região o
desenvolvimento que apenas desmata, mata e exclue.
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