RIO — O encontro entre um adolescente rebelde, aluno de um projeto para
alunos com defasagem idade-série, e uma profissional tida como durona
terminou em agressão, na última quinta-feira, na Escola Municipal João
Kopke, em Piedade, na Zona Norte. A diretora Leila Soares foi empurrada
e recebeu um soco no rosto após repreender um estudante de 15 anos que
brincava de brigar no pátio. Leila publicou um desabafo sobre a
agressão sofrida em sua página no Facebook.
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“O agressor sai de cabeça erguida, olhando para trás e rindo. Não só do
agredido, mas de cada um de nós”, diz trecho do depoimento da diretora.
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Na
segunda-feira, a violência foi do lado de fora da escola: alunos que
faziam uma manifestação a favor da diretora tiveram seus cartazes
rasgados por amigos do agressor. Na confusão que se armou, um deficiente físico levou dois socos no rosto.
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— Aqui do lado de fora sempre tem briga, mas agressão ao diretor foi a
primeira vez — disse Miguel Maciel, de 12 anos, aluno do 7º ano, mesma
série do agressor.
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Segundo os alunos, Leila flagrou o aluno brigando de lutar com um
amigo. Ela mandou que eles parassem e teria sido empurrada pelo aluno.
Leila avisou que iria ligar para a mãe do jovem e para a Ronda Escolar,
da Guarda Municipal. Diante da ameaça, o rapaz teria dado um soco no
rosto da diretora. A diretora e o aluno foram para a 24ª DP (Piedade),
onde Leila contou que o estudante, após tê-la socado, saiu rindo pelo
corredor. Como estava com muita dor no ouvido, ela foi encaminhada ao
Hospital Salgado Filho. Depois ela foi ao Instituto Médico-Legal fazer
exame de corpo delito, que não apontou lesão externa. Mas, como ela
continuou sentido dores, será feito um exame complementar.
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Segundo a delegada Cristiane Carvalho, Leila não apresentava hematomas,
mas estava muito abalada. O estudante, morador do Morro do Adeus, foi
autuado por fato análogo a lesão corporal. A mãe do adolescente se
comprometeu por escrito a levá-lo à Vara da Infância e da Juventude,
onde ele deverá ser punido com uma medida socioeducativa, que pode ir
da advertência verbal à internação compulsória.
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— A mãe estava irritada e disse que não iria mais procurar colégio para
ele, dando a entender que ele já tinha tido problemas antes. Ele
admitiu na delegacia ter dado um soco na diretora e não demonstrou
arrependimento — disse a delegada.
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Desde 2003, 53 agressões
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Em nota, a Secretaria municipal de Educação disse que o aluno foi
transferido para outra escola e que aplicou o Regimento Escolar Básico
do Ensino Fundamental. E disse ainda que a diretora, que está na escola
desde 2009, ficará em licença por dez dias. A secretária de Educação,
Claudia Costin, classificou o fato de “triste e lamentável”. Segundo
dados da secretaria, desde 2003, foram registradas 53 agressões —
verbais e físicas — de alunos a professores que resultaram em
sindicâncias.
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Wiria Alcântara, diretora do Sindicato Estadual dos Profissionais de
Ensino, observa que agressões dentro de escola têm sido cada vez mais
rotineiras:
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— As crianças estão muito violentas, refletindo o que acontece na sociedade. E as escolas não estão preparadas.
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Depoimento da diretora
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“Quantas vezes nos indignamos quando sabemos de casos de agressões
a colegas, profissionais como nós. Mas não nos indignamos o suficiente
por acharmos que ainda está muito distante...
De repente, chega a nós.
O corpo dói. Mas a dor vai passando com gelo, analgésico, remédios...
O coração, este fica tão apertado que parece que sobra espaço em
torno dele de tão pequeno. Este espaço é preenchido com dor. Que não
tem remédio.
(...) Sofremos nós, nossos parentes, nossos amigos, nossos companheiros.
Sofre uma sociedade inteira que vive temerosa porque não temos quem nos proteja.
O agressor sai de cabeça erguida, olhando para trás e rindo. Não só do agredido, mas de cada um de nós. Ri do erro...
Ri da sociedade que fica refém enquanto ele continuará empurrando, xingando, ameaçando, chutando, socando...
(...) Quem somos nós, Educadores? Somos aqueles de quem ri o que sai impune, olhando para trás e rindo.
Serei só mais uma? Ou a última?”
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